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Fausto

9. Horror

A inteligência nada pode saber.
[ilustração: Goya (1746-1828). «O sono da razão produz monstros».
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«Para que falar? O que dizer? Tudo é horror e o horror é tudo!»
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Já estão em mim exaustas,

Deixando-me transido de horror,

Todas as formas de pensar (...)

O enigma do universo. Já cheguei

A conceber como requinte extremo

Da exausta inteligência que esse Deus,

Que ensinam as igrejas com aqueles

Seus atributos       [...]

        [...]        — existir realmente

Realmente existir e que houvesse

Mas fosse sonho, e não sonho nosso...

Sim cheguei a aceitar como verdade

O que nos dão por ela, e a admitir

Uma realidade não real

Mas sim sonhada como esse Deus cristão.

Mas isto, cuja ideia formidável

Cheia de horríveis possibilidades

Negra e profunda me  (...)

A mente, abandonei, não sem tremer,

No caos do meu ser, onde jazem

Juntamente com ela espectros negros

De soluções passageiras, apavoradoras,

Momentâneas, momentâneos

Sistemas horrorosos, pavorosos,

Repletos de infinito. Formidáveis

Não só por isto mas também por serem

Falhados pensamentos e sistemas

Que por falharem só mais negro fazem

O poder horroroso que os transcende

A todos, infinitamente a todos.

Oh horror! Oh mistério! Oh existência!

Para que lado não me virarei

Onde abrirei os olhos — olhos d'alma —

Que o mistério não me atormente, e eu

Não avance tremendo para ele?

E... Para que falar? O que dizer?

Tudo é horror e o horror é tudo!

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

 - 50.

1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.78).