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Fausto

4. Pensar

A razão não pode compreender a vida.
[ilustração: Pentagrama do Doutor Fausto, segundo Éliphas Lévi.
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«Este perpétuo analisar de tudo é que tira a inocência verdadeira.»
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Não é o vício

Nem a experiência que desflora a alma:

É só o pensamento. Há inocência

Em Nero mesmo e em Tibério louco

Porque há inconsciência. Só pensar

Desflora até ao íntimo do ser.

Este perpétuo analisar de tudo,

Este buscar duma nudez suprema

Raciocinada coerentemente,

É que tira a inocência verdadeira

Pela suprema consciência funda

De si, do mundo, de todos. Guarde, guarde

Fora do vício e do vil mundo além

Em gruta ou solidão o eremita;

Se o pensamento vir tudo

(...)

Pensar, pensar e não poder viver!

Pensar, sempre pensar, perenemente,

Sem poder ter mão nele! Ah eu sorrio

Quando às vezes eu noto o inconsciente

Riso vazio do bandido,

Rindo-se da inocência! Se ele soubesse

O que é perder a inocência toda...

Não a inocência vã do corpo ao olhar,

Ou vulgar e banal conhecimento,

Mas a inocência bela do viver;

De sentir — seja mesmo como ele

Esse (...) escravo do deboche-seja!

Sentir um sentir que abertamente

Se não ache vazio.

O Tédio! O Tédio quem me dera Tê-lo!

Se os (...)

Soubessem o que eu sinto. Eles não pensam

E eu... e eu...

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

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1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.110).