Fausto
15. Sensação
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«Quero hoje apenas sensações, muitas, muitas sensações.»
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Beber a vida num trago, e nesse trago
Todas as sensações que a vida dá
Em todas as suas formas, boas, más,
Trabalhos e prazeres, e ofícios,
Todos lugares, viagens, explorações
Crimes, lascívias, decadências todas.
D'antes eu queria
Embeber-me nas árvores, nas flores,
Sonhar nas rochas, mares, solidões.
Hoje não, fujo dessa ideia louca:
Tudo o que me aproxima do mistério
Confrange-me de horror. Quero hoje apenas
Sensações, muitas, muitas sensações,
De tudo, de todos neste mundo — humanas
Não outras de delírios panteístas
Mas sim perpétuos choques de prazer,
Mudando sempre
Guardando forte a personalidade
Para sintetizá-las num sentir.
Quero
Afogar em bulício, em Luz, em vozes,
— Tumultuárias coisas usuais (
O sentimento da desolação
Que me enche e me avassala.
Folgaria
De encher num dia, numa hora, num trago
A medida dos vícios ainda mesmo
Que fosse condenado eternamente (
Loucura — ao tal inferno.
A um inferno real.
Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.
- 137d.1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.113).