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Fausto

15. Sensação

Sob o efeito do “filtro”, deseja sentir tudo de todas as maneiras.
[ilustração: Dominguez Alvarez (1906-1942). «Taberna». s.d. Col. part.
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«Quero hoje apenas sensações, muitas, muitas sensações.»
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Beber a vida num trago, e nesse trago

Todas as sensações que a vida dá

Em todas as suas formas, boas, más,

Trabalhos e prazeres, e ofícios,

Todos lugares, viagens, explorações

Crimes, lascívias, decadências todas.

                              D'antes eu queria

Embeber-me nas árvores, nas flores,

Sonhar nas rochas, mares, solidões.

Hoje não, fujo dessa ideia louca:

Tudo o que me aproxima do mistério

Confrange-me de horror. Quero hoje apenas

Sensações, muitas, muitas sensações,

De tudo, de todos neste mundo — humanas

Não outras de delírios panteístas

Mas sim perpétuos choques de prazer,

Mudando sempre

Guardando forte a personalidade

Para sintetizá-las num sentir.

                                           Quero

Afogar em bulício, em Luz, em vozes,

— Tumultuárias coisas usuais (

O sentimento da desolação

Que me enche e me avassala.

                                                Folgaria

De encher num dia, numa hora, num trago

A medida dos vícios ainda mesmo

Que fosse condenado eternamente (

Loucura — ao tal inferno.

A um inferno real.

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

 - 137d.

1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.113).