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Álvaro de Campos

32. Pensar

Pensar mais é inútil e incomoda.
[ilustração: Mário Eloy (1900-1951). «O Comboio». 1930. Col. part. Lisboa.
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«Pensar em nada é ter alma própria e inteira.»

Não estou pensando em nada

E essa coisa central, que é coisa nenhuma,

É-me agradável como o ar da noite,

Fresco em contraste com o Verão quente do dia.

Não estou pensando em nada, e que bom!

Pensar em nada

É ter a alma própria e inteira.

Pensar em nada

É viver intimamente

O fluxo e o refluxo da vida...

Não estou pensando em nada.

É como se me tivesse encostado mal.

Uma dor nas costas, ou num lado das costas.

Há um amargo de boca na minha alma:

É que, no fim de contas,

Não estou pensando em nada,

Mas realmente em nada,

Em nada...

6-7-1935

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).

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