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Álvaro de Campos

33. Amor

O último poema de Campos é irónico mas redentor.
[ilustração: Júlio (1902-1983). «Cabeça de mulher e lua». 1973. Col. Família do Autor, Vila do Conde.
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«As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas.»

Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,

Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser

Ridículas.

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram

Cartas de amor

É que são

Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor

Ridículas.

A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que são

Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,

Como os sentimentos esdrúxulos,

São naturalmente

Ridículas).

21-10-1935

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).

 - 84.

1ª publ. in Acção, nº41. Lisboa: 6-3-1937.