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Alberto Caeiro

17. Amor

Um dia Caeiro descobre  o amor e já só consegue pensar...
[ilustração: Françoise Binan-Faou. Fotografia. 1995
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«E eu quase me esqueço de sentir só de pensar nela.»

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,

E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.

Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,

E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.

Amar é pensar.

E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.

Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.

Tenho uma grande distracção animada.

Quando desejo encontrá-la

Quase que prefiro não a encontrar,

Para não ter que a deixar depois.

Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só

Pensar nela.

Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

10-7-1930

“O Pastor Amoroso”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

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