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Alberto Caeiro

24. Felicidade

Mas a auto-consciência impede a felicidade completa...
[ilustração: Manuel Mª Bordallo Pinheiro. «O flautista». in Athena nº3, 1924
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«Que felicidade é essa que pareces ter, a tua ou a minha?»

Pastor do monte, tão longe de mim com as tuas ovelhas —

Que felicidade é essa que pareces ter—a tua ou a minha?

A paz que sinto quando te vejo, pertence-me, ou pertence-te?

Não, nem a ti nem a mim, pastor.

Pertence só à felicidade e à paz.

Nem tu a tens, porque não sabes que a tens.

Nem eu a tenho, porque sei que a tenho.

Ela é ela só, e cai sobre nós como o sol,

Que te bate nas costas e te aquece, e tu pensas noutra coisa indiferentemente,

E me bate na cara e me ofusca, e eu só penso no sol.

12-4-1919

“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

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1ª publ. in “Poemas Inconjuntos”. In Athena, nº 5. Lisboa: Fev. 1925.