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Ricardo Reis

23. Amor

O amor morre mais cedo que a vida.
[ilustração: Concerto íntimo. Fresco. Pompeia.
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«O amor, antes que o corpo que empregamos nele, em nós envelhece.»

                        De amore suo

Folha após folha vemos caem,

        Cloé, as folhas todas.

Nem antes para elas, para nós

        Que sabemos que morrem.

        Assim, Cloé, assim,

O amor, antes que o corpo que empregamos

        Nele, em nós envelhece;

E nós, diversos, somos, inda jovens,

        Só a mútua lembrança.

Ah, se o que somos será isto sempre

        E só uma hora é o que somos,

Com tal excesso e fúria em cada amplexo

        A hausta vida ponhamos,

Que encha toda a memória, e nos beijemos

        Como se, findo o beijo

Único, sobre nós ruísse a súbita

        Mole do inteiro mundo.

27-10-1923

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.

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