Proj-logo

MultiPessoa

LABIRINTO · PESSOANA · VÍDEO · JOGOS · INFO

Ricardo Reis

14. Razão

A razão porque vivemos não a podemos conhecer.
[ilustração: Actor. Fresco. Pompeia.
] anterior seguinte
«Sábio deveras o que não procura.»

Enquanto eu vir o sol luzir nas folhas

E sentir toda a brisa nos cabelos

        Não quererei mais nada.

Que me pode o Destino conceder

Melhor que o lapso sensual da vida

        Entre ignorâncias destas?

Sábio deveras o que não procura,

Que, procurando, achara o abismo em tudo

        E a dúvida em si mesmo.

Pomos a dúvida onde há rosas. Damos

Quase tudo do sentido a entendê-lo

        E ignoramos, pensantes.

Estranha a nós a natureza extensa

Campos ondula, flores abre, frutos

        Cora, e a morte chega.

Terei razão, se a alguém razão é dada,

Quando me a morte conturbar a mente

        E já não veja mais

Que à razão de saber porque vivemos

Nós nem a achamos nem achar se deve,

        Impropícia e profunda.

16-6-1927

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.

 - 119.