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Ricardo Reis

15. Consciência

Saibamos ter a visão clara e inútil do universo.
[ilustração: Auriga de Delfos. Bronze. 470 a.c. Museu de Delfos.
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«Deixem-me apenas a consciência lúcida e solene das coisas e dos seres.»

Tirem-me os deuses

Em seu arbítrio

Superior e urdido às escondidas

O Amor, gloria e riqueza.

Tirem, mas deixem-me,

Deixem-me apenas

A consciência lúcida e solene

Das coisas e dos seres.

Pouco me importa

Amor ou glória.

A riqueza é um metal, a gloria é um eco

E o amor uma sombra.

Mas a concisa

Atenção dada

Às formas e as maneiras dos objectos

Tem abrigo seguro.

Seus fundamentos

São todo o mundo,

Seu amor é o plácido Universo.

Sua riqueza a vida.

A sua glória

É a suprema

Certeza da solene e clara posse

Das formas dos objectos.

O resto passa,

E teme a morte.

Só nada teme ou sofre a visão clara

E inútil do Universo.

Essa a si basta,

Nada deseja

Salvo o orgulho de ver sempre claro

Até deixar de ver.

6-6-1915

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).

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