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Ricardo Reis

5. Paganismo

Reis acredita nos deuses antigos que vivem na natureza.
[ilustração: Piero di Cosimo (1462-1521). Fauno. National Gallery, Londres.
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«Os deuses são os mesmos, cheios de eternidade e desprezo por nós.»

O deus Pã não morreu,

Cada campo que mostra

Aos sorrisos de Apolo

Os peitos nus de Ceres —

Cedo ou tarde vereis

Por lá aparecer

O deus Pã, o imortal.

Não matou outros deuses

O triste deus cristão.

Cristo é um deus a mais,

Talvez um que faltava.

Pã continua a dar

Os sons da sua flauta

Aos ouvidos de Ceres

Recumbente nos campos.

Os deuses são os mesmos,

Sempre claros e calmos,

Cheios de eternidade

E desprezo por nós,

Trazendo o dia e a noite

E as colheitas douradas

Sem ser para nos dar

O dia e a noite e o trigo

Mas por outro e divino

Propósito casual.

12-6-1914

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).

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