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Álvaro de Campos

31. Poesia

O soneto clássico será a forma possível de harmonia?
[ilustração: Álvaro de Campos. «Escrito num livro abandonado em viagem». in Presença, nº10, 1928.
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«Catorze linhas a cumprir iguais para a gente saber onde está...»

REGRESSO AO LAR

Há quanto tempo não escrevo um soneto

Mas não importa: escrevo este agora.

Sonetos são infância e, nesta hora.

A minha infância é só um ponto preto

Que num imóbiI e fútil trajecto

Do comboio que sou me deita fora

E o soneto é como alguém que mora

Há dois dias em tudo que projecto.

Graças a Deus, ainda sei que há

Quatorze linhas a cumprir iguais

Para a gente saber onde é que está...

Mas onde a gente está, ou eu, não sei...

Não quero saber mais de nada mais

E berdamerda para o que saberei.

3/2/1935

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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