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Fernando Pessoa

6. Dor

A dor que sente na alma é indefinida e incerta.
[ilustração: Almada Negreiros (1893-1970). Desenho in Presença, nº 5, 1927.
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«Isto lembra uma tristeza, e a lembrança é que entristece.»

Vaga, no azul amplo solta,

Vai uma nuvem errando.

O meu passado não volta.

Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.

Entra mais na alma da alma.

Mas como, no céu sem gente,

A nuvem flutua calma,

E isto lembra uma tristeza

E a lembrança é que entristece,

Dou à saudade a riqueza

De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora

Na minha amarga ansiedade

Mais alto que a nuvem mora,

Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto

À alma que o saiba bem

Visto da dor com que minto

Dor que a minha alma tem.

20-3-1931

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

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