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Fernando Pessoa

5. Esperança

Os sonhos quando realizados deixam de ser desejados.
[ilustração: Almada Negreiros (1893-1970). Desenho in Presença, nº 53-54, 1938.
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«Para quê afeição, esperança, se perco, logo que as uso, a causa para as usar?»

Onde pus a esperança, as rosas

Murcharam logo.

Na casa, onde fui habitar,

O jardim, que eu amei por ser

Ali o melhor lugar,

E por quem essa casa amei —

Decerto o achei,

E, quando o tive, sem razão para o ter

Onde pus a afeição, secou

A fonte logo.

Da floresta, que fui buscar

Por essa fonte ali tecer

Seu canto de rezar —

Quando na sombra penetrei,

Só o lugar achei

Da fonte seca, inútil de se ter.

Para quê, pois, afeição, esperança,

Se perco, logo

Que as uso, a causa para as usar,

Se tê-las sabe a não as ter?

Crer ou amar —

Até à raiz, do peito onde alberguei

Tais sonhos e os gozei,

O vento arranque e leve onde quiser

E eu os não possa achar!

16-2-1920

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

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