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Fernando Pessoa

24. Tempo

Os erros do passado ficaram para trás como episódio circunstancial.
[ilustração: Júlio (1902-1983). Ilustração de «Biografia» de José Régio. 1929. Gravura em Linóleo.
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«Ninguém é exacto nem feliz.»

Deixei atrás os erros do que fui,

Deixei atrás os erros do que quis

E que não pude haver porque a hora flui

E ninguém é exacto nem feliz.

Tudo isso como o lixo da viagem

Deixei nas circunstâncias do caminho,

No episódio que fui e na paragem,

No desvio que foi cada vizinho.

Deixei tudo isso, como quem se tapa

Por viajar com uma capa sua,

E a certa altura se desfaz da capa

E atira com a capa para a rua.

23-8-1934

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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