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Fernando Pessoa

16. Sinceridade

Os nossos sentimentos são sempre imaginados.
[ilustração: Paulo. Desenho. in Presença nº 50, 1937.
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«Não sei ser triste a valer, nem ser alegre deveras.»

Não sei ser triste a valer

Nem ser alegre deveras.

Acreditem: não sei ser.

Serão as almas sinceras

Assim também, sem saber?

Ah, ante a ficção da alma

E a mentira da emoção,

Com que prazer me dá calma

Ver uma flor sem razão

Florir sem ter coração!

Mas enfim não há diferença.

Se a flor flore sem querer,

Sem querer a gente pensa.

O que nela é florescer

Em nós é ter consciência.

Depois, a nós como a ela,

Quando o Fado a faz passar,

Surgem as patas dos deuses

E a ambos nos vêm calcar.

Está bem, enquanto não vêm

Vamos florir ou pensar.

3-4-1931

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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