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Fernando Pessoa

25. Destino

O destino rege o mundo indiferentemente e todo esforço é vão.
[ilustração: Mário Eloy (1900-1951). Violinista e Anjo. 1937. Col. part. Lisboa.
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«O Fado fada alheio ao bem e ao mal.»

GLOSAS

Toda a obra é vã, e vã a obra toda.

O vento vão, que as folhas vãs enroda,

Figura o nosso esforço e o nosso estado.

O dado e o feito, ambos os dá o Fado.

Sereno, acima de ti mesmo, fita

A possibilidade erma e infinita

De onde o real emerge inutilmente,

E cala, e só para pensares sente.

Nem o bem nem o mal define o mundo.

Alheio ao bem e ao mal, do céu profundo

Suposto, o Fado que chamamos Deus

Rege nem bem nem mal a terra e os céus.

Rimos, choramos através da vida.

Uma coisa é uma cara contraída

E a outra uma água com um leve sal.

E o Fado fada alheio ao bem e ao mal.

Doze signos do céu o Sol percorre,

E, renovando o curso, nasce e morre

Nos horizontes do que contemplamos.

Tudo em nós é o ponto de onde estamos.

Ficções da nossa mesma consciência,

Jazemos o instinto e a ciência.

E o sol parado nunca percorreu

Os doze signos que não há no céu.

14-8-1925

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

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