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Ocultismo

2. Poesia

Desde cedo, Pessoa escreveu poemas simbólicos.
[ilustração: Sublinhados de Pessoa:«Le génie et les théories de M. Lombroso». Étienne Rabaud. 1908.
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«Eu guardo secreto e indiferente o vulto do meu régio futuro, o meu destino oculto aos olhos do Presente ...
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Eu sou o disfarçado, a máscara insuspeita.

Entre o trivial e o vil m[inha] alma insatisfeita

Indescoberta passa, e para eles tem

Um outro aspecto, porque, vendo-o, não a vêem,

Porque adopto o seu gesto, afim que []

Julga o vil que sou vil, e, porque não me

No meandro interior por onde é vil quem é

Julga-me o inábil na vileza que me vê.

Assim postiço igual dos inferiores meus,

Passo, príncipe oculto, alheio aos próprios véus,

Porque os véus que me impõe a urgência de viver,

São outro modo, e outra (...), e outro ser:

Porque não tenho a veste e a púrpura visível

Como régio meu ser não é aceite ou crível;

Mas como qualquer em meu gesto se trai

Da grandeza nativa que irreprimível sai

Um momento de si e assoma ao meu ser falso,

Isso, porque desmancha a inferioridade a que me alço,

Em vez de grande, surge aos outros inferior.

E aí no que me cerca o desconhecedor

Que me sente diferente e não me pode ver

Superior, julga-me abaixo do seu ser.

Mas eu guardo secreto e indiferente o vulto

Do meu régio futuro, o meu destino oculto

Aos olhos do Presente, o Futuro o escreveu

No Destino Essencial que fez meu ser ser eu.

Por isso indiferente entre os triviais e os vis

Passo, guardado em mim. Os olhares subtis

Apenas decompõem em postiças verdades

O que de mim se vê nas exterioridades.

Os que mais me conhecem ignoram-me de todo.

13-3-1918

Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

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