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Ocultismo

21. Sebastianismo

O sebastianismo, devidamente compreendido, «pouco tem que ver com o D. Sebastião que se diz ter morrido em África».
[ilustração: Costa Pinheiro. El rei D. Sebastião no Meu Atelier IV. 1985
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«O que seja propriamente o sebastianismo — eis o que não é talvez permitido desvendar.»
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QUANDO VOLTA D. SEBASTIÃO?

Em 1924, segundo profecia de [...]

O sebastianismo tem sido incompreendido. Tomado por uns como sendo uma mera superstição popular, por outros como um devaneio imperialista da decadência, o facto é que ele tem sido, em geral, tido por assunto desprezível e obscuro. Obscuro com certeza que é, para aqueles que não têm o fio condutor que os leve seguramente através do labirinto das profecias sebásticas. Desprezível está longe de ser — tanto pela razão, estritamente exotérica e sociológica, de que o sebastianismo é o único movimento profundamente nacional que tem havido entre nós, tendo toda a força de um movimento religioso, que é, e todo aquele cunho nacional que falta a todos os movimentos políticos entre nós, quer se trate do mimetismo da Grande França absolutista feito pelo Marquês de Pombal, quer da servil cópia do constitucionalismo inglês realizada esterilmente pelos nossos “liberais”, quer da reles subserviência aos ideais da Revolução Francesa, estrangeiros para nós, que são uma das coroas da inglória e do antipatriotismo dos nossos pseudo republicanos de hoje em dia.

O que seja propriamente o sebastianismo — hoje mais vigoroso do que nunca, na assombrosa sociedade secreta que o transmite cada vez mais ocultamente de geração em geração, guardado religiosamente o segredo do seu alto sentido simbólico e português, que pouco tem que ver com o D. Sebastião que se diz ter morrido em África, e muito com o D. Sebastião que tem o número cabalístico da Pátria Portuguesa —, eis o que não é talvez permitido desvendar. Mas, para interesse dos leitores, não é talvez mal cabido explicar qual a data marcada para o Grande Regresso, em que a Alma da Pátria se reanimará, se reconstituirá a íntima unidade da Ibéria, através de Portugal, se derrotará finalmente o catolicismo (outro dos elementos estrangeiros entre nós existentes e inimigo radical da Pátria) e se começará a realizar aquela antemanhã ao Quinto Império.

Essa data consta ocultamente da chamada profecia de [...], que é objecto dos esperados sarcasmos de José Agostinho de Macedo no seu livro Os Sebastianistas.

Diz a profecia:

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A interpretação tradicional, de que José Agostinho se serviu, dava este regresso para 1693, porque partia da hipótese que os números citados no princípio da profecia eram números realmente e não sinais planetares, como com efeito são.

Eles faziam assim o cálculo:

Depois de nove 900

Junta um 100

soma 1000

Três a 300

quatro 400

soma 1700

Tira sete de barato 1693

Aos outros versos do profeta dava se uma interpretação consentânea com o regresso em 1963.

A verdade, porém, é que tudo isto está errado.

O número nove, na cabalística, representa o planeta Marte, e o número um o Sol. A indicação constante dos primeiros versos da profecia é portanto de que o regresso se dará num período de Marte e num subperíodo do Sol. Ora, segundo a Astrologia Cabalística, que é a empregada, por exemplo, por Nostradamo, nas suas previsões veladas e, mesmo, pelo nosso pseudo Bandarra, nas profecias que se lhe atribuem, o período de Marte abrange de 1909 a 1944. Durante este período há cinco subperíodos do Sol, isto é, cinco anos regidos pelo Sol, cabalisticamente falando. São 1910, 1917, 1924, 1931 e 1938.

Três a quatro — continua a profecia. Trata se do terceiro período, cujo número final é com efeito 4 — 1924.

Tira sete de barato. Por isto entende se que a prova dará sete. Ora a chamada prova dos noves é um dos processos ocultos mais empregados para explicação final de qualquer tema profético. E com efeito, feita esta prova ao número 1924, ele dará noves fora 7. É este o ano, portanto, do Regresso do Encoberto.

Será por coincidência que, examinando astrologicamente as possibilidades de esse ano, vemos que é o ano em que a conjunção de Marte e de Saturno cai em cheio sobre a conjunção de Urano e de Neptuno que rege os destinos de Portugal, visto estar situada no meridiano do horóscopo nacional? Será por coincidência que o esmagamento total se revela no horóscopo do rei de Espanha para esse período? Será por coincidência que é nesse ano que o planeta Urano transitando desde 1920 o signo de Portugal (Pisces) atinge o lugar da cabeça de Dragão, cuja importância na astrologia nacional é de primeiro plano? Tantas são as coincidências que apontam como importante para nós, e, através de nós, para a Ibéria esse ano estranho de 1924.

Mas que quer dizer esse Grande Regresso? O que é que regressa? O que significa, ao certo, essa Vinda de D. Sebastião? O próprio D. Sebastião o que significa? Perguntas são estas a que se não pode responder senão com o texto velado do Tertuliano: Aquelas coisas que estão veladas, descobertas, ficam destruídas ( em latim ).

s.d.

Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.

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