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Ocultismo

25. Hino a Pã

A publicação do «Hino a Pã» na Presença é referida em várias cartas a João Gaspar Simões.
[ilustração: Mário Eloy (1900-1951). Pã. 1923 (Capa da revista Vida Musical).
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«Veja, lá agora: não me deixe mal com um Mago!»
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Apartado 147.

Lisboa, 4 de Janeiro de 1931.

Meu querido Gaspar Simões:

Muito obrigado pela sua carta, pelos dois exempla­res da Presença e, mais ainda, pelo seu artigo, que muito me agradou. Há pontos que acho certos, outros que não acho certos, outros, ainda, sobre os quais eu mesmo estou incerto. Mas, à parte o facto honroso e agradável da própria existência do artigo, ele agra­dou-me, deveras, em seu conteúdo. Mais tarde, e mais demoradamente, lhe reduzirei a pormenores o que aí vai sumariamente dito.

Calculei que lhe agradasse o Oitavo Poema do "Guardador de Rebanhos", mas verifico, com novo pra­zer, que de facto lhe agradou. Vão juntas as cinco no­tas escolhidas das Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro, do Álvaro de Campos; espero que lhe agradem também. Só ontem tive tempo para fazer a escolha e a cópia.

O Mestre Therion não é heterónimo meu; é sim­plesmente o «nome supremo» do poeta, mago, astrólogo e «mistério» inglês que em vulgar se chama (ou cha­mava) Aleister Crowley, que também se designava por «A Besta 666». O Hino a Pã é uma espécie de prefácio ao trabalho intitulado Magick (Magia), que foi publi­cado em Paris, em quatro tomos. Crowley mandou vir de Inglaterra um tratado desses para mim; recebi-o, por sinal, já depois de o Crowley ter desaparecido de Lis­boa em circunstâncias misteriosas.

Lembrei-me um dia de traduzir o Hino a Pã, o que fiz, conforme o meu critério de traduzir verso, em abso­luta conformidade rítmica com o original. Mandei a v. o poema para, como lhe disse, v. ver o que é propria­mente um «poema mágico», em comparação com um simples «poema a respeito de magia», como é o meu Último Sortilégio.

Reflecti, depois de lhe escrever, sobre o que lhe havia dito de o poema não dever ser publicado. Não vejo, afinal, inconveniente nisso, se v. achar interes­sante publicá-lo. Tem, pelo menos, a vantagem de ser singular: não creio que haja em português (natural ou traduzido) outro poema precisamente dessa ordem. Pode, pois, v. publicá-lo se quiser. Para esse fim lhe envio uma nova cópia, em que ajustei (creio) a ortogra­fia, e fiz umas pequenas modificações.

Um abraço do amigo e admirador muito grato,

               Fernando Pessoa.

4-1-1931

Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões. (Introdução, apêndice e notas do destinatário.) Lisboa: Europa-América, 1957 (2.ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982).

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