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Filosofia

4. Dialéctica

Pessoa pensa por antíteses: a uma certeza pode sempre opôr-se a certeza contrária.
[ilustração: Gaudenzio Nazario. «Tudo trancende tudo». 1994
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«Toda opinião é uma tese, e o mundo, à falta de verdade, está cheio de opiniões.»
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Sabem todos que a dialéctica platónica decompõe o movimento do raciocínio em três tempos sucessivos — a tese, a antítese, e a síntese. O mesmo íntimo critério preside ao movimento da ode grega, ou de toda ode — a estrofe, em que se determina a ideia; a antístrofe, em que se Ihe opõe a ideia contrária, que a própria posição daquela exige; o epodo, em que se conciliam as duas. Nem sempre assim era na realização da ode; sempre assim deveria ser.

Toda opinião é uma tese, e o mundo, à falta de verdades, está cheio de opiniões. Mas a cada opinião compete uma contra‑opinião, seja crítica da primeira, seja complemento dela. Na realidade do pensamento humano, essencialmente flutuante e incerto, tanto a opinião primária, como a que Ihe é oposta, são em si mesmas instáveis; não há síntese, pois, nas coisas da certeza, senão tese e antítese apenas. Só os Deuses, talvez, poderão sintetizar.

A estes escritos chamo antíteses porque representam, em sua íntima substância, contra‑opiniões, desmascaramentos, desilusão. À certeza com que cada um pensa o que julga que pensa convém opor a certeza com que se pode pensar o contrário, com que se consegue tornar lógico o absurdo [...]

1915

Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968 (imp. 1993).

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