Vida e Obra
18. Orpheu
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Os Directores do ORPHEU julgam conveniente, para que se evitem erros futuros e más interpretações, esclarecer, com respeito à arte e formas de arte que nessa revista foram praticadas, o seguinte:
(1) O termo «futurista», que designa uma escola literária e artística possivelmente legítima, mas, em todo o caso, com normas estreitas e perfeitamente definidas, não é aplicável ao conjunto dos artistas de ORPHEU, nem, até, a qualquer d'eles individualmente, ressalvado o caso do pintor Guilherme de Santa Rita, e lamentáveis episódios de José de Almada-Negreiros.
(2) Os termos «sensacionista» e «interseccionista», que, com maior razão, se aplicaram aos artistas de ORPHEU, também não têm cabimento. Sensacionista é só Álvaro de Campos; interseccionista foi só Fernando Pessoa, e em uma só colaboração — a «Chuva Oblíqua» em ORPHEU 2.
(3) O termo «modernista», que por vezes também se aplicou aos artistas de ORPHEU, não lhes pode também ser aplicado, por isso que não tem significação nenhuma, a não ser para designar — porque assim se designou — a nova escola pragmatista e exegética dos Evangelhos, nascida a dentro da Igreja Católica, e condenada pelo Papa, por excessivamente tendente a procurar a verdade.
(4) Os artistas de ORPHEU pertencem cada um à escola da sua individualidade própria, não lhes cabendo portanto, em resumo do que acima se disse, designação alguma colectiva. As designações colectivas só pertencem aos sindicatos, aos agrupamentos com uma ideia só (que é sempre nenhuma) e a outras modalidades do instinto gregário, vulgar e natural nos cavalos e nos carneiros.
(5) Os colaboradores de ORPHEU foram os seguintes: Mário de Sá-Carneiro, etc.
NOTA — Como não é possível que dois indivíduos de inteligência e personalidade estejam de acordo, por isso que cada um d'eles é um, os directores de ORPHEU assinam ambos esta declaração conjunta com a declaração de «vencidos».
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
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