Portugal
18. Império cultural
anterior seguinte | |
«A nação que pretenda a um imperialismo cultural deve começar por unificar os elementos que falam a sua língua.»
|
Portugal
Se o nosso imperialismo é um imperialismo cultural, ou, em outras palavras, se é um imperialismo cujo ponto de apoio é a Cultura, é evidente que, para a sua organização dinâmica, se deve apoiar aos elementos a que culturalmente pertence ou com que culturalmente se conjuga; sendo certo que se não deve de esquecer que um imperialismo, embora cultural, é sempre um imperialismo, isto é, que, embora uma política cultural, é sempre uma política.
Ora os laços culturais são de três ordens, se os considerarmos não só como cultural, senão também como políticos. Vimos já (?) que há, primeiro, nações, depois grupos civilizacionais, finalmente a civilização. A determinação do sentido cultural de um país tem, portanto, que definir-se pela sua determinação em relação a si própria, ao grupo civilizacional a que pertence, e à civilização em geral.
Em relação a si própria o critério definidor é a língua, que é o que define a nação para si mesma. A nação que pretenda a um imperialismo cultural deve, portanto, começar por unificar os elementos que falam a sua língua, porque não há império sem unificação, nem, portanto, império cultural sem unificação cultural. Há três casos possíveis neste caso da unificação: ou só a nação de que se trata fala a sua língua, e em toda a parte dessa nação se fala essa língua e nenhuma outra; ou a nação de que se trata inclui povos que, embora culturalmente falem a sua língua, falam naturalmente outra; ou a nação de que se trata exclui povos, que não pode integrar em si, que falam a mesma língua. O melhor exemplo da primeira é a Itália, que não tem senão dialectos e em que todos falam italiano, sem que haja colónia alguma italiana, no sentido superior e nacional da palavra “colónia”. O melhor exemplo da segunda é a Espanha, que inclui a Catalunha e Euzkadi, que falam línguas diferentes do espanhol. Para o terceiro exemplo serve Portugal, que, sendo uno no continente, tem, por exemplo, uma colónia espiritual, o Brasil, onde se fala a mesma língua mas que é inevitavelmente, por uma razão geográfica de distância, um povo diferente.
Para cada espécie de povo destes, posto que esteja o problema do imperialismo cultural, esse problema se põe de modo diferente.
Portugal, na determinação do apoio do seu imperialismo cultural, tem que buscar, primeiro, o Brasil, que tem por língua nacional o português.
Portugal, na determinação do seu apoio em grupo civilizacional, tem que buscar a Ibéria, de cuja personalidade espiritual participa. . ..
Portugal, na determinação do seu apoio civilizacional, isto é, puramente político, tem que buscar a Inglaterra (e os países de língua inglesa ?????) para apoio político da sua política externa.
Portugal não difere no género, senão na espécie, das outras regiões da Ibéria. Isto é, os inimigos culturais de Portugal são os inimigos culturais da Ibéria, e vice-versa. Como se trata de grupo civilizacional, a questão, aqui, não é política; e por isso pode haver inimigos políticos de Portugal que o não sejam de Espanha, e de Espanha que o não sejam de Portugal.
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
- 83.