Portugal
6. Decadência
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«O problema português consiste na destruição da tripla camada de negativismo que assim cobre a Pátria.»
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A desorientação em que temos vivido, a decadência em que temos vegetado, deriva da acumulação de três factores, que em três épocas diferentes intervieram na vida nacional e cuja influência infeliz permaneceu.
O primeiro factor — a decadência propriamente dita — data da jornada de Alcácer Quibir, prolonga-se pelo domínio dos Filipes, e até hoje ainda não passou. Lampejos transitórios — a Restauração, o Marquês de Pombal, o Presidente Sidónio Pais — são apenas (salvo o último caso, de cujas consequências não podemos falar ainda) remissões da nossa doença colectiva.
O segundo factor — a desnacionalização — entrou com a vinda do sistema monárquico estrangeiro que, implantado primeiro em 1820, se arrastou, através de uma guerra civil constante, latente ou patente, até à sua fixação em 1851, e a corrupção definitiva dos nossos costumes políticos e administrativos, o abandono total do governo à portuguesa.
O terceiro factor, prolongamento desse segundo, surgiu plenamente em 1910, com a implantação da República. A desnacionalização tornou-se, nessa altura, degenerescência. Nem a degenerescência se limitava aos partidos que a República trouxe (não há estado social mórbido que seja pertença exclusiva de um partido), mas abrangeu também os velhos partidos monárquicos cuja obra a República, anarquizando mais, apenas continuou.
O problema português consiste na destruição da tripla camada de negativismo que assim cobre a Pátria.
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
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