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Portugal

17. O Encoberto

Quer Fernando Pessoa fazer-nos crer que ele próprio representa o regresso do Encoberto, o D. Sebastião anunciado?
[ilustração: Fernando Pessoa numa rua da Baixa.
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«Neste ano (1888) deu-se em Portugal o acontecimento nacional mais importante desde as descobertas.»
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A manhã de nevoeiro. Por manhã entende-se o princípio de qualquer coisa nova — época, fase, ou coisa semelhante. Por nevoeiro entende-se que o Desejado virá “encoberto”; que, chegando, ou chegado, se não perceberá que chegou. A primeira vinda, 1640, mostra isto bem: a data marca o princípio de uma dinastia, e a vinda de D. Sebastião foi “encoberta”, foi através de nevoeiro, pois julgando todos — em virtude de sua simbologia primitiva — que o Encoberto era D. João IV, em verdade o Encoberto era o facto abstracto da Independência, como aqui se viu. Na Segunda Vinda, em 1888, por pouco que possamos compreender, compreendemos contudo que a profecia tradicional se cumpre: sabemos que 1888 é “manhã”, porque é o princípio do Reino do Sol — por onde se notará que melhor não pode haver para que se simbolize por “manhã”—, e, estando nós já a 37 anos dessa data, sem que ainda possamos compreender o que nela se deu, não pode haver dúvida do carácter encoberto, nevoento, da Vinda Segunda de D. Sebastiã o.

s.d.

Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.

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